8/31/2009

Qualquer música...




Qualquer Música, ah,qualquer,
Logo que me tire da alma,
Esta incerteza que quer,
Qualquer impossível calma!

Qualquer música- guitarra
Viola, harmônio, realejo...
Um canto que se desgarra...
Um sonho em que nada vejo...

Qualquer coisa que não vida!
Jota, fado, a confusão
Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração


( Fernando Pessoa )

Ao chegar na livraria...

Letras e expressões – madrugada poética. (?)

O conceito de arte sempre foi um tema polêmico.Qualquer expressão é arte? Que tipo de expressão é arte? A arte tem limite? A arte tem julgamento? A arte tem manual?


Ao menos em tese, quem faz arte se questiona o tempo todo. É tudo tão relativo assim?
Dizem que é difícil saber ao certo o que é arte, mas muito fácil saber o que não é. Mas a partir da análise de quem? Sob que ponto de vista?
A introdução confusa serve para iniciar o relato pessoal (e por que não dizer desabafo?) após uma madrugada confusa, vivenciada na Livraria Letras e Expressões, no Leblon.
A Livraria Letras e Expressões é um espaço conceituado, e parecia ser um espaço onde os artistas se reúnem para trocar idéias, mostrar seus trabalhos, conhecer pessoas novas e interessadas em discutir cultura. Parecia ser. Não é.
O que eu encontrei na famosa e "cult" madrugada poética é preocupante.
Ao chegar na livraria, me deparei com um pequeno palco, rodeado de pessoas de todos os tipos. As pessoas falavam alto (e, por que não dizer?, gritavam), mesmo tendo um microfone; exaltadas, veneravam um autor-ator (!?) presente, que fazia gracinhas para seus "fãs".
Inevitavelmente deslocada, tentei ficar no canto, sentindo uma profunda vergonha do alheio.
Descobri que havia um café no segundo andar, me desloquei para lá. Relaxei, bebi e comecei a prestar atenção ao que estava sendo lido e de que maneira estava sendo lido.
Os "artistas" presentes, num ato desesperado (e agressivo) em busca de atenção, performatizavam a poesia (de rimas pobres e conteúdo duvidoso) da maneira mais esdrúxula possível, provocando gargalhadas em mim (a deslocada) e profunda admiração nos demais presentes.
Mas se engana quem acha que tive prazer com isso. Ri sim, e muito.
Mas depois, aos poucos, comecei a refletir o sobre aquele “espetáculo”.
Mais do que a pergunta principal: "O que estou fazendo aqui?", ficou a pergunta: "O que eles estavam fazendo ali?"
Puro nada.
Ego, ego e ego.
Status, ânsia de mídia, extremo vazio de reflexão.
Eles interpretavam em frente a um espelho, sendo uma superficialização de si mesmos.
Ao sair do evento, só consegui ter a impressão de que algo vai mal, muito mal.


Leia mais sobre o assunto:
Acesse o link : http://www.oucritica.blogspot.com/

8/28/2009

O nascimento da crônica


O nascimento da crônica


Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.
Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaac e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.
Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do ano.
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.
Que eu, sabedor ou conjeturador de tão alta prosápia, queira repetir o meio de que lançaram mãos as duas avós do cronista, é realmente cometer uma trivialidade; e contudo, leitor, seria difícil falar desta quinzena sem dar à canícula o lugar de honra que lhe compete. Seria; mas eu dispensarei esse meio quase tão velho como o mundo, para somente dizer que a verdade mais incontestável que achei debaixo do sol é que ninguém se deve queixar, porque cada pessoa é sempre mais feliz do que outra.
Não afirmo sem prova.
Fui há dias a um cemitério, a um enterro, logo de manhã, num dia ardente como todos os diabos e suas respectivas habitações. Em volta de mim ouvia o estribilho geral: que calor! Que sol! É de rachar passarinho! É de fazer um homem doido!
Íamos em carros! apeamo-nos à porta do cemitério e caminhamos um longo pedaço. O sol das onze horas batia de chapa em todos nós; mas sem tirarmos os chapéus, abríamos os de sol e seguíamos a suar até o lugar onde devia verificar-se o enterramento. Naquele lugar esbarramos com seis ou oito homens ocupados em abrir covas: estavam de cabeça descoberta, a erguer e fazer cair a enxada. Nós enterramos o morto, voltamos nos carros, e daí às nossas casas ou repartições. E eles? Lá os achamos; lá os deixamos, ao sol, de cabeça descoberta, a trabalhar com a enxada. Se o sol nos fazia mal, que não faria àqueles pobres-diabos, durante todas as horas quentes do dia?


( Ensaio sobre " Crônicas"...)


8/27/2009

A Trajetória...




" E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação".

8/26/2009

Extra!! Extra!! Me casei...?!


Sessão EXTRA!!!



Casamento do século...
A Música me laçou !!??%$?
Enfim juntos..rs !!
By A. B.

Music Express...


A Música me laçou.


A música fez um pacto com meu coração
Invadiu meu espaço, num só compasso
Me laçou e entrelaçou seus dedos e suas garras
em minhas entranhas e não se preocupou se quer
no estado que me deixaria.
Foi um amor assim, sem explicação, sem "porquês"
um vício, uma verdadeira invasão em meu ser.
Uma completude de amor , de dor , de êxtase
de prazer, de medo mais também de entrega.
Assim, combinamos que uma não viveria sem a outra
sem o som, sem a melodia de seus versos.
E aqui estou eu, amarrada, entrelaçada a essa força
que hoje confesso não ter coragem para me libertar.
Nossa relação é um misto de som e fúria, alegria e dor
prazer e amor , sem nexo desde a primeira vez que por ti
fui " tocada".
Enfim, nos encontramos e hoje temos a certeza de que nunca
deixaremos uma a outra, talvez pelo simples fato de que
desesperadamente a sua existência já faça parte de mim...

Ensaio sobre a música...


( Por Aline Braga )


Quando me chamam intelectual...



“Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.[...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”


Por Clarice Lispector

Palavras ao vento...